segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A metáfora do longo corredor do aeroporto de Lisboa

Ideias são movidas a cata-vento, eu não faço ideia por que escrevi essa frase, o motivo deve ter fugido. Fui atingida por uma gripe do demônio e fiquei delirando por uma semana, dois dias dos quais foram passados em um avião. Você pode imaginar no que deu. 

No meu último dia em Londres, fiquei estressada. Não muito mais do que o normal, eu sempre vivia estressada, mas esse foi realmente estressante, tão estressante que irei compartilhá-lo censuradamente. Não, só pensar nele já me deixa tensa, então acho que só farei uma nota sobre o dia.

02/02/2013 Londres
Congestionamento de 2 horas. Frio. Sol de lascar. Tosse e febre. Perda de passaporte. Náusea no almoço e incapacidade de entender português com sotaque. 

Não foi um dia muito bom. Além do mais, meu corpo rejeitava fisicamente a prospectiva do retorno e minha mente não ficava logo atrás. Eu estava uma pilha de nervos. Essa parte já deu para entender.

Ao chegar em Lisboa, ainda tive que encarar meu maior inimigo. Tal inimigo é nominado erroneamente, pois não o vejo como um vilão, e sim como representação da minha maturação como ser humano durante a viagem e todo o meu aprendizado. Eu ainda estou delirando, ignorem este parágrafo.

Estou falando do grande corredor do aeroporto de Lisboa, lembra dele?

Escrito em 07/01/2013 às 11:07
Não sabia se passava pela fila da imigração ou se seguia direto para a conexão. Eu disse meu destino e a moça respondeu “Sobe”. Subi. Dei de cara com o corredor mais longo e deserto da minha vida. Lá duvidei a existência do aeroporto, do fim do corredor e da minha própria existência.

Após exaustivos minutos de tensão e ansiedade, encontrei o detector de metais e nunca fiquei tão feliz na minha vida por ser revistada, porque lembrei que era isso que devia fazer mesmo.

O poder do grande corredor não deve ser subestimado. Ele realmente faz você pensar coisas. E lá estava eu de novo, eu e a minha febre, atravessando o corredor. Dessa vez foi mais rápido e acho que faltando 1/3 pro fim tive 1 pequeno ataque de gargalhada, mas isso não é relevante pro texto. Eu havia vencido o corredor. Eu havia conquistado o símbolo máximo da independência, eu passei com nota 10 nessa bagaça.

Um momento para o fim da salva de palmas. Podem parar, já chega. Eu consegui. Eu virei gente grande em 1 mês. Eu lidei com traficantes de drogas, eu morei em Londres sozinha, eu tive meu trem cancelado pela nevasca, eu fiz amigos de diversas nacionalidades, eu quase comi feijão doce, eu virei gente grande.


Eu voltei. Eu esqueci disso tudo? Retornar é uma nova imigração. Não posso deixar de pensar sobre Londres, não consigo desligar a minha cabeça, não quero perder nada que acontece por lá. Estou triste e cansada e exausta e deslocada. Sou uma estranha para a minha própria cidade. Ainda tenho muito chão pela frente e sei que apoio para o que quero fazer terei pouco. Preciso de foco, preciso me concentrar. Preciso continuar escrevendo.

Sinto, porém, que meu regresso virá mais breve do que espero. Em Londres me encontrei, agora falta encontrar os meios de explicar o que aconteceu. O que aconteceu? Convencer mãe, convencer a mim mesma de que isso é o certo, de que é isso que eu preciso. Preciso estudar, preciso me informar. Preciso continuar escrevendo.

Preciso parar de delirar e fazer alguma coisa, como fiz no último mês. Minha host mum mandou um email. Ela disse: "Well sometimes in life you have to work very hard to get what you want so that includes having no rest."

Verdade. Agora é hora de ação. Preciso clarear a cabeça e ver onde eu me encaixo nesta bagunça toda. Mas não estou sozinha.

"I'm sorry you had an awful experience with Daniela but I believe it made u a better person and I think you dealt with everything in a mature way despite your age. I believe you will do great things because you are wiser than you see." 

Tem gente acreditando em mim.

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